sábado, 16 de julho de 2011

Apichatpong Weerasethakul completa 41 anos hoje

O talentoso cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul completa hoje 41 anos de vida. Considerado um dos principais nomes do cinema asiático contemporâneo, o diretor de longas como Tropical Malady e Blissfully Yours preza pelo experimentalismo e pela valorização do cinema independente. Até pouco tempo atrás não era muito conhecido no Brasil; porém, ao levar a Palma de Ouro em Cannes, no ano passado, com o título Tio Boonmee, que recorda suas vidas passadas, sua obra deverá aos poucos tornando-se mais conhecida. Leia a seguir a reportagem de Diego Assis que saiu no G1.


APICHATPONG WEERASETHAKUL PROPÕE UM CINEMA SEM LIMITES
Palma de Ouro deve jogar luz sobre trabalhos do diretor tailandês.
Com ritmo e narrativa peculiares, 'Lung Boonmee' exige boa vontade.

A entrega da Palma de Ouro neste domingo (23) ao longa-metragem tailandês "Lung Boonmee raluek chaat", no 63º Festival de Cannes, deve jogar luz sobre o ainda obscuro Apichatpong Weerasethakul. Mesmo já tendo sido premiado duas vezes em Cannes - "Blissfully yours" (Un Certain Regard, 2002) e "Tropical malady" (Júri, 2004) -, o cineasta continuava conhecido apenas nos círculos de críticos e cinéfilos mais ligados ao cinema de arte.

Além de se acostumar com o nome quase impronunciável do diretor, o público que quiser se familiarizar com os filmes do tailandês precisa saber que não encontrará neles o mesmo padrão estético e narrativo confortável que se vê em Hollywood - o que não significa, claro, que seus longas sejam inferiores ao cinemão a que estamos acostumados.

"Lung Boonmee raluek chaat" - que em português poderia ser traduzido por Tio Boonmee, aquele que reconta histórias de vidas passadas - é um filme com uma estrutura narrativa, trabalho de câmera, ritmo e atuações bastante peculiares.

Thanapat Saisaymar, por exemplo, que interpreta o Tio Boonmee no filme, um homem à beira da morte que se recolhe com sua família em uma fazenda de floresta tropical no nordeste da Tailândia, nem é ator profissional. No dia-a-dia, ele trabalha com construção de telhados naquela mesma região onde se passa o filme. Há um claro amadorismo em sua atuação, mas isso só contribui para deixar o personagem mais convincente ainda.

De fato, "Lung Boonmee" é inspirado em um relato verdadeiro de um livro publicado por um monge tailandês que fala de um homem que dizia ser capaz de transportar sua alma para diferentes animais e elementos da natureza.

A crença faz parte do folclore tailandês, e portanto a aparição de espíritos, macacos-fantasmas (representados por atores com o corpo coberto de pelos e as pupilas luminescentes vermelhas) e até de um bagre falante que faz amor com uma princesa em uma cachoeira não são grandes absurdos de se imaginar dentro do universo da narrativa de Apichatpong. E certamente encheram os olhos do presidente do júri, Tim Burton, que também fez suas incursões por aí em filmes - bem mais conservadores, é claro - como "O peixe grande outras histórias" e "Planeta dos macacos".

Ainda assim, a mistura do que é sabedoria popular com as situações mais inusitadas de "Lung Boonmee" criam momentos cômicos que levaram o público às gargalhadas na sessão. Entre outras, há pérolas como "Nossa, como o seu cabelo cresceu" (para o filho que retorna como um macaco-fantasma), ou "O céu é superestimado" (frase dita pela mulher falecida a Boonmee, quando ele lhe pergunta para onde deve ir quando morrer). E Apichatpong sabe temperar essas passagens com uma fotografia e edição de som que criam uma atmosfera de suspense que não deixa seu filme devendo nada a "Bruxa de Blair" - pelo contrário.

Cabe, portanto, ao espectador superar o estranhamento inicial e se deixar mergulhar não só nos causos fantásticos do Tio Boonmee mas também no interessante mundo de Apichatpong Weerasethakul.

"O que tento fazer é apresentar um tipo diferente de cinema, que força os limites, que desafia as plateias a pensar nas possibilidades que o cinema é capaz de trazer", disse o diretor em entrevista coletiva logo após a entrega da Palma de Ouro em Cannes.

"Sinto que aqui, nos Estados Unidos, na Tailândia e até no Cambódia estamos rendidos a uma monocultura que obedece a uma mesma lógica de narrativa e impede uma minoria cultural de expressar o seu próprio modo de fazer as coisas. Vejo o cinema como um dos componentes que pode forçar o entendimento dessas diferenças na cultura", concluiu.

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